terça-feira, 5 de maio de 2015

CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE



CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE
1.Origem remota da questão. O conflito árabe-israelense remonta aos tempos de Abraão, que teve os filhos Isaque e Ismael, sendo então pai tanto dos judeus quanto dos árabes. Ismael, filho da escrava Agar, expulsa do lar, era o primogênito, mas o filho da promessa, segundo a Bíblia, era Isaque, filho de Sara, o qual veio a gerar o povo escolhido de Deus. Para o Corão e, por conseguinte, para os muçulmanos, Ismael seria o filho prometido por Deus a Abraão.
A questão, assim, na sua origem, é espiritual. Gênesis, capítulos 18 e 21.
Os descendentes de Isaque, os judeus, e os descendentes de Ismael, os árabes, lutam pelo predomínio político, militar e econômico da região, que abrange não só a Palestina, mas também grande parte do Oriente Médio.
2.Desdobramentos. Com a destruição do Segundo Templo e de Jerusalém (v. a profecia de Jesus, Mateus 24:1-2) pelo general romano Tito, no ano 70 d. C., os judeus que sobreviveram à guerra foram levados cativos e permaneceram espalhados pelo mundo, na Diáspora. Uns poucos, no entanto, lograram retornar. Esses poucos foram acrescidos, no decorrer dos séculos, de pequenos grupos de judeus que conseguiam voltar à Palestina, estabelecendo-se principalmente em Jerusalém e arredores, sempre sob o jugo de outros povos.
3.O Sionismo. Alhures, pelo mundo, os hebreus sonhavam em regressar. Não importa onde estivessem, em encontros religiosos ou sociais, sempre comentavam baixinho,na intimidade: "Bah shanah habaá, beYerushalaim", isto é, "no ano que vem, em Jerusalém". A este sonho, e ao desejo consequente de restaurar a pátria de Israel na Palestina, ao movimento judaico que se cristalizou, apesar do antissemitismo em redor do planeta, chamou-se Sionismo. A expressão "pai do Sionismo" é atribuída a Theodor Herzl, autor do livro "O Estado Judeu", que foi também organizador e presidente do primeiro Congresso Sionista, em 1897. Muitos cristãos,    aderiram ao movimento sionista porque viam o ressurgimento de Israel como o cumprimento de profecias de quase todos os profetas do Antigo Testamento.
4.A criação de Israel. Logo após a Segunda Guerra Mundial, o mundo tomou conhecimento, horrorizado, do Holocausto, isto é, o extermínio de 6 milhões de judeus, a maioria deles nos campos de concentração da Europa. Surgiu, então, o clamor internacional para a criação de um "Lar Judeu", numa parte da Palestina, como uma espécie de compensação para a tragédia do Holocausto. Os principais opositores do movimento eram os árabes, principalmente palestinos, que dividiam com os judeus a Palestina, ocupada política e militarmente pelos ingleses desde 1917.
ONU. A Sessão Especial da Assembleia Geral. Em novembro de 1947, a Organização das Nações Unidas, criada em 1945 logo após a II Guerra, então constituída de 57 países (hoje são 193 Estados-Membros), convocou uma Sessão Especial da Assembleia Geral para debater "a questão da Palestina" e estabelecer um "lar para os Judeus", vítimas de um dos maiores genocídios da História.
Por causa das rivalidades e estrelismos dos EUA e da Rússia, foi escolhido para presidir a Sessão Especial o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Osvaldo Aranha, diplomata de renome no cenário internacional. Nos debates que se seguiram, foi trazida para discussão também a situação dos palestinos, que dividiam a Terra Santa com os judeus. Foi, então, concebido um Plano de Partilha da Palestina em dois Estados, um judeu e outro palestino.
A Partilha da Palestina. Dos 57 países-membros, representantes de 56 compareceram. Somente a Tailândia esteve ausente. Quando, no decorrer dos trabalhos, o Chanceler Osvaldo Aranha percebeu que havia forte tendência de parte considerável dos participantes em não aprovar o Plano de Partilha, ele suspendeu os trabalhos. As atenções de todo o planeta estavam voltadas para a ONU, em Nova York. Os discursos e os trabalhos eram transmitidos pelo rádio. No mundo, organizações sionistas e grande número de cristãos defendiam com veemência a Proposta de Partilha e a criação de um Estado Judeu.
Depois de intensas negociações de bastidores, a sessão foi retomada e o plano aprovado, em 29 de novembro de 1947: 33 países a favor, 13 votaram contra, e 10 se abstiveram. Judeus ainda hoje se emocionam quando se referem a essa data (tisháh beáv, em hebraico). O programa consistia na partição da margem ocidental do rio Jordão em dois Estados: um judeu e outro palestino. Era o que restava da Palestina, porque a Jordânia já havia sido estabelecida na margem oriental do Jordão, em 1922. A Israel coube 55% do território, e aos árabes-palestinos 45%, embora a população palestina fosse muito maior, ou seja, 1 milhão e 300 mil palestinos, e 600 mil judeus. Os países da Liga Árabe foram contra a decisão e desencadearam, em seguida, guerra para impedir a criação de um "lar para os judeus". No entanto, poucos meses mais tarde, em maio de 1948, ainda em meio aos confrontos, os judeus declararam a Independência do Estado de Israel.
Em Israel, no kibbutz de judeus brasileiros chamado "bror-hail", existe um Museu Osvaldo Aranha, com a lista dos países que votaram e o martelo da sessão, que por ele foi batido no término da votação.


A guerra da independência e a "questão palestina". O plano foi rejeitado pelos palestinos e pela Liga Árabe. Os exércitos do Egito, Iraque, Líbano, Síria e Jordânia invadem a Palestina. A guerra foi vencida pelos israelenses, que, com o cessar-fogo e o armistício, passam a ocupar 75% da superfície. Da parte restante, a Cisjordânia ficou com a Jordânia, e a Faixa de Gaza com o Egito. O conflito provocou o deslocamento de 900 mil palestinos, que deixaram as áreas incorporadas por Israel e deram origem à chamada "questão palestina", que não encontra solução até os dias de hoje. Atualmente, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, eles constituem quase 5 milhões de palestinos em campos de refugiados dispersos pelos países vizinhos.
A guerra dos 6 dias, em junho de 1967. Foi conflito de Israel contra uma coligação de países árabes, liderados pelo Egito, que haviam criado bloqueio militar e econômico contra o estado judeu. A Força Aérea Israelense desencadeou ataque preventivo e fulminante contra a aviação egípcia e síria, cujas aeronaves foram aniquiladas ainda no solo, nas suas bases. Em consequência, Israel tomou e anexou: as colinas do Golã, na fronteira com a Síria; a Cisjordânia (Margem Ocidental) e Jerusalém Oriental, que estavam sob controle da Jordânia; a península do Sinai e a Faixa de Gaza, sob domínio egípcio. E também aumentou o número de refugiados palestinos nos países fronteiriços de Israel.
A guerra do Yom Kippur (dia do perdão).

A conflagração começou com um ataque inesperado e arrasador, coordenadamente, dos exércitos do Egito e da Síria, na península do Sinai e nas colinas do Golã, que haviam sido capturadas por Israel na guerra dos 6 dias. Desta vez, em outubro de 1973, o fator surpresa esteve do lado dos árabes. Iniciou-se no Yom Kippur, feriado para os judeus, dia de jejum e oração. Na primeira semana de conflito, Israel perdeu terreno e sofreu milhares de baixas. Felizmente para o estado judeu, a Jordânia, que, dentre os árabes, tem as tropas melhor equipadas e melhor preparadas, permaneceu neutra. Mesmo assim, Israel, afirma-se, teria cogitado de usar artefatos nucleares no início da guerra, pois o momento  lhe foi bem desfavorável. Mas na segunda semana, a situação inverteu-se. As tropas israelenses, recuperadas do susto e das baixas iniciais, transpuseram os elevados do Golã, de um lado, e de outro atravessaram o Sinai e estavam a 147 km do Cairo e a 40 km de Damasco quando foi estabelecido o cessar-fogo.
Uma das consequências do conflito foi a "crise do petróleo", uma vez que os estados árabes, membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) elevaram os preços da commodity, como retaliação pelo apoio que os EUA e os países europeus davam a Israel, causando sérios problemas na economia internacional. Outra consequência: os árabes, humilhados na Guerra dos Seis Dias, sentiram-se vingados pelas vitórias no início do conflito do Yom Kippur, apesar do resultado que se seguiu. Seja como for, o Egito começou a perceber que, no conflito árabe-israelense, era sempre o maior perdedor do lado árabe, pois como o principal antagonista de Israel, tinha de lutar até "a última gota de sangue egípcio". Não causa surpresa, então, que, em 1978, o Egito tenha sido o primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com Israel.
A criação da Autoridade Palestina. Após exaustivas negociações entre 1993 e 1995, em Oslo, Noruega, foi concluído acordo entre Israel e a OLP (Organização para Libertação da Palestina), para a criação da Autoridade Nacional Palestina, para ser um goverbo de transição até o surgimento do estado independente. Pelo acordo, a ANP deveria existir até 1999, quando o status definitivo da Cisjordânia e Faixa de Gaza, capturados por Israel na Guerra dos 6 Dias, já deveria estar resolvido.
Isso, porém, não ocorreu pois israelenses e palestinos nunca chegaram a termo nas discussões para a criação do Estado Palestino, previsto no Plano de Partilha da Palestina, de 1947. Existem três grandes obstáculos para a conclusão de um tratado:
a)a existência de quase 5 milhões de refugiados palestinos (no início eram 900 mil, que foram acrescidos pelo crescimento familiar e pelos palestinos que fugiram em decorrência das guerras); quantos palestinos deveriam voltar e para onde;
b)Jerusalém Oriental, considerada a capital do futuro Estado Palestino, foi unificada com Jerusalém Ocidental, e assim tornada a capital perpétua de Israel;
c)os assentamentos (colônias) israelenses estabelecidos na Cisjordânia e na Faixa de


Gaza, que se tornam cada vez mais urbanizados e consolidados, tornando difícil a sua devolução no caso de um acordo;
d)as fronteiras do futuro Estado Palestino, que seriam definidas pelo Plano de Partilha da Palestina, ou pela Resolução 242 das Nações Unidas.
Não tendo ainda havido acordo entre os beligerantes, muitos países deixaram de considerar a ANP apenas como entidade governamental palestina, mas sim como estado, embora lhe falte soberania sobre o território onde se encontra. Esses países abriram, então, suas "Embaixadas" em Ramallah, na Cisjordânia, capital provisória dos palestinos, ao invés de "escritórios de representação", o que, do ponto de vista político e diplomático, seria mais adequado.
Ameaça à existência de Israel. Não são apenas as organizações terroristas islâmicas que ameaçam a existência de Israel. O Irã, que avança rapidamente num programa nuclear, para fins pacíficos e militares, visando à obtenção de artefatos nucleares, afirma que nunca houve o holocausto de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial, e que Israel não tem o direito de existir. Recorde-se que, sobre esse assunto, no início da década de 1980, também o Iraque, nos tempos do ditador Saddam Hussein, havia construído usinas nucleares para fins pacíficos e militares. Todas as instalações iraquianas foram destruídas pela Força Aérea Israelense, em 1982.
O Estado Islâmico ou DI (Dáula Islamíya). Não se trata de um estado, pois não tem os elementos constitutivos. Na verdade, é uma organização terrorista muito violenta e impiedosa, uma excrescência radical que surgiu nos vácuos de poder em áreas do leste da Síria e oeste do Iraque, países que se encontram em guerra civil.
O objetivo do grupo extremista é constituir um estado com autoridade política e religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo, principalmente os do Levante, que inclui, historicamente, além das áreas em que se instalou, a Península Arábica, o Líbano, a Jordânia, Israel, Palestina, Chipre e Turquia. Por essa razão, se autoproclamou "califado", isto é, seu dirigente se considera "califa", enfeixando em suas mãos poderes políticos e religiosos.
A organização terrorista obriga as pessoas que vivem nas áreas que controla, a se converterem ao Islã radical, e a viverem sob a Shária, o código islâmico de leis, extraído do Corão. Aqueles que se recusam sobre torturas e mutilações, além de serem condenados à morte.
O grupo é muito mais brutal do que a Al Qaeda, dispersa pelo Oriente Médio, ou pelo Hamas, na Faixa de Gaza. Se a própria Al Qaeda se desligou do grupo por causa de sua brutalidade, e por ser intratável, por que outras instituições preconizariam diálogo com o Estado Islâmico.
É uma excrescência, mas parece que o Estado Islâmico veio para ficar. Não será fácil a sua extinção, em vista da provável fragmentação da Síria e do Iraque. Todos os 54 países que integram a coligação internacional contra o grupo extremista, defendem o seu aniquilamento. Nenhum deles, no entanto, estaria disposto a enviar suas tropas para combatê-lo em terra, e não somente por bombardeios, que se têm revelado inócuos.