CONFLITO
ÁRABE-ISRAELENSE
1.Origem remota
da questão. O conflito árabe-israelense remonta aos tempos de Abraão, que
teve os filhos Isaque e Ismael, sendo então pai tanto dos judeus quanto dos
árabes. Ismael, filho da escrava Agar, expulsa do lar, era o primogênito, mas o
filho da promessa, segundo a Bíblia, era Isaque, filho de Sara, o qual veio a gerar
o povo escolhido de Deus. Para o Corão e, por conseguinte, para os muçulmanos,
Ismael seria o filho prometido por Deus a Abraão.
A questão, assim, na sua origem, é espiritual. Gênesis,
capítulos 18 e 21.
Os descendentes de Isaque, os judeus, e os
descendentes de Ismael, os árabes, lutam pelo predomínio político, militar e
econômico da região, que abrange não só a Palestina, mas também grande parte do
Oriente Médio.
2.Desdobramentos. Com a destruição do Segundo Templo e de Jerusalém
(v. a profecia de Jesus, Mateus 24:1-2) pelo general romano Tito, no ano 70 d.
C., os judeus que sobreviveram à guerra foram levados cativos e permaneceram
espalhados pelo mundo, na Diáspora. Uns poucos, no entanto, lograram retornar.
Esses poucos foram acrescidos, no decorrer dos séculos, de pequenos grupos de
judeus que conseguiam voltar à Palestina, estabelecendo-se principalmente em
Jerusalém e arredores, sempre sob o jugo de outros povos.
4.A
criação de Israel. Logo após a
Segunda Guerra Mundial, o mundo tomou conhecimento, horrorizado, do Holocausto,
isto é, o extermínio de 6 milhões de judeus, a maioria deles nos campos de concentração
da Europa. Surgiu, então, o clamor internacional para a criação de um "Lar
Judeu", numa parte da Palestina, como uma espécie de compensação para a
tragédia do Holocausto. Os principais opositores do movimento eram os árabes,
principalmente palestinos, que dividiam com os judeus a Palestina, ocupada
política e militarmente pelos ingleses desde 1917.
ONU. A
Sessão Especial da Assembleia Geral.
Em novembro de 1947, a Organização das Nações Unidas, criada em 1945 logo após
a II Guerra, então constituída de 57 países (hoje são 193 Estados-Membros), convocou
uma Sessão Especial da Assembleia Geral para debater "a questão da
Palestina" e estabelecer um "lar para os Judeus", vítimas de um
dos maiores genocídios da História.
Por causa das rivalidades e estrelismos dos EUA e da
Rússia, foi escolhido para presidir a Sessão Especial o Ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Osvaldo Aranha, diplomata de renome no cenário
internacional. Nos debates que se seguiram, foi trazida para discussão também a
situação dos palestinos, que dividiam a Terra Santa com os judeus. Foi, então,
concebido um Plano de Partilha da Palestina em dois Estados, um judeu e outro
palestino.
A
Partilha da Palestina. Dos 57
países-membros, representantes de 56 compareceram. Somente a Tailândia esteve
ausente. Quando, no decorrer dos trabalhos, o Chanceler Osvaldo Aranha percebeu
que havia forte tendência de parte considerável dos participantes em não
aprovar o Plano de Partilha, ele suspendeu os trabalhos. As atenções de todo o
planeta estavam voltadas para a ONU, em Nova York. Os discursos e os trabalhos
eram transmitidos pelo rádio. No mundo, organizações sionistas e grande número
de cristãos defendiam com veemência a Proposta de Partilha e a criação de um
Estado Judeu.
Depois de intensas negociações de bastidores, a sessão
foi retomada e o plano aprovado, em 29 de novembro de 1947: 33 países a favor,
13 votaram contra, e 10 se abstiveram. Judeus ainda hoje se emocionam quando se
referem a essa data (tisháh beáv, em hebraico). O programa consistia na
partição da margem ocidental do rio Jordão em dois Estados: um judeu e outro palestino.
Era o que restava da Palestina, porque a Jordânia já havia sido estabelecida na
margem oriental do Jordão, em 1922. A Israel coube 55% do território, e aos
árabes-palestinos 45%, embora a população palestina fosse muito maior, ou seja,
1 milhão e 300 mil palestinos, e 600 mil judeus. Os países da Liga Árabe foram
contra a decisão e desencadearam, em seguida, guerra para impedir a criação de
um "lar para os judeus". No entanto, poucos meses mais tarde, em maio
de 1948, ainda em meio aos confrontos, os judeus declararam a Independência do
Estado de Israel.
Em Israel, no kibbutz de judeus brasileiros chamado
"bror-hail", existe um Museu Osvaldo Aranha, com a lista dos países
que votaram e o martelo da sessão, que por ele foi batido no término da
votação.
A guerra da independência e a "questão palestina". O plano foi rejeitado pelos palestinos e pela Liga Árabe. Os exércitos do Egito, Iraque, Líbano, Síria e Jordânia invadem a Palestina. A guerra foi vencida pelos israelenses, que, com o cessar-fogo e o armistício, passam a ocupar 75% da superfície. Da parte restante, a Cisjordânia ficou com a Jordânia, e a Faixa de Gaza com o Egito. O conflito provocou o deslocamento de 900 mil palestinos, que deixaram as áreas incorporadas por Israel e deram origem à chamada "questão palestina", que não encontra solução até os dias de hoje. Atualmente, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, eles constituem quase 5 milhões de palestinos em campos de refugiados dispersos pelos países vizinhos.
A guerra
dos 6 dias, em junho de 1967. Foi
conflito de Israel contra uma coligação de países árabes, liderados pelo Egito,
que haviam criado bloqueio militar e econômico contra o estado judeu. A Força
Aérea Israelense desencadeou ataque preventivo e fulminante contra a aviação
egípcia e síria, cujas aeronaves foram aniquiladas ainda no solo, nas suas
bases. Em consequência, Israel tomou e anexou: as colinas do Golã, na fronteira
com a Síria; a Cisjordânia (Margem Ocidental) e Jerusalém Oriental, que estavam
sob controle da Jordânia; a península do Sinai e a Faixa de Gaza, sob domínio
egípcio. E também aumentou o número de refugiados palestinos nos países
fronteiriços de Israel.
A guerra
do Yom Kippur (dia do perdão).
A conflagração começou com um ataque inesperado e arrasador, coordenadamente, dos exércitos do Egito e da Síria, na península do Sinai e nas colinas do Golã, que haviam sido capturadas por Israel na guerra dos 6 dias. Desta vez, em outubro de 1973, o fator surpresa esteve do lado dos árabes. Iniciou-se no Yom Kippur, feriado para os judeus, dia de jejum e oração. Na primeira semana de conflito, Israel perdeu terreno e sofreu milhares de baixas. Felizmente para o estado judeu, a Jordânia, que, dentre os árabes, tem as tropas melhor equipadas e melhor preparadas, permaneceu neutra. Mesmo assim, Israel, afirma-se, teria cogitado de usar artefatos nucleares no início da guerra, pois o momento lhe foi bem desfavorável. Mas na segunda semana, a situação inverteu-se. As tropas israelenses, recuperadas do susto e das baixas iniciais, transpuseram os elevados do Golã, de um lado, e de outro atravessaram o Sinai e estavam a 147 km do Cairo e a 40 km de Damasco quando foi estabelecido o cessar-fogo.
A conflagração começou com um ataque inesperado e arrasador, coordenadamente, dos exércitos do Egito e da Síria, na península do Sinai e nas colinas do Golã, que haviam sido capturadas por Israel na guerra dos 6 dias. Desta vez, em outubro de 1973, o fator surpresa esteve do lado dos árabes. Iniciou-se no Yom Kippur, feriado para os judeus, dia de jejum e oração. Na primeira semana de conflito, Israel perdeu terreno e sofreu milhares de baixas. Felizmente para o estado judeu, a Jordânia, que, dentre os árabes, tem as tropas melhor equipadas e melhor preparadas, permaneceu neutra. Mesmo assim, Israel, afirma-se, teria cogitado de usar artefatos nucleares no início da guerra, pois o momento lhe foi bem desfavorável. Mas na segunda semana, a situação inverteu-se. As tropas israelenses, recuperadas do susto e das baixas iniciais, transpuseram os elevados do Golã, de um lado, e de outro atravessaram o Sinai e estavam a 147 km do Cairo e a 40 km de Damasco quando foi estabelecido o cessar-fogo.
Uma das consequências do conflito foi a "crise do
petróleo", uma vez que os estados árabes, membros da OPEP (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo) elevaram os preços da commodity, como
retaliação pelo apoio que os EUA e os países europeus davam a Israel, causando
sérios problemas na economia internacional. Outra consequência: os árabes,
humilhados na Guerra dos Seis Dias, sentiram-se vingados pelas vitórias no
início do conflito do Yom Kippur, apesar do resultado que se seguiu. Seja como
for, o Egito começou a perceber que, no conflito árabe-israelense, era sempre o
maior perdedor do lado árabe, pois como o principal antagonista de Israel,
tinha de lutar até "a última gota de sangue egípcio". Não causa
surpresa, então, que, em 1978, o Egito tenha sido o primeiro país árabe a
assinar um tratado de paz com Israel.
A criação da Autoridade Palestina. Após exaustivas
negociações entre 1993 e 1995, em Oslo, Noruega, foi concluído acordo entre
Israel e a OLP (Organização para Libertação da Palestina), para a criação da
Autoridade Nacional Palestina, para ser um goverbo de transição até o surgimento
do estado independente. Pelo acordo, a ANP deveria existir até 1999, quando o
status definitivo da Cisjordânia e Faixa de Gaza, capturados por Israel na
Guerra dos 6 Dias, já deveria estar resolvido.
Isso, porém, não ocorreu pois israelenses e palestinos
nunca chegaram a termo nas discussões para a criação do Estado Palestino,
previsto no Plano de Partilha da Palestina, de 1947. Existem três grandes
obstáculos para a conclusão de um tratado:
a)a existência de quase 5 milhões de refugiados
palestinos (no início eram 900 mil, que foram acrescidos pelo crescimento
familiar e pelos palestinos que fugiram em decorrência das guerras); quantos palestinos
deveriam voltar e para onde;
b)Jerusalém Oriental, considerada a capital do futuro
Estado Palestino, foi unificada com Jerusalém Ocidental, e assim tornada a
capital perpétua de Israel;
c)os assentamentos (colônias) israelenses
estabelecidos na Cisjordânia e na Faixa de
Gaza, que se tornam cada vez mais urbanizados e consolidados, tornando difícil a sua devolução no caso de um acordo;
Gaza, que se tornam cada vez mais urbanizados e consolidados, tornando difícil a sua devolução no caso de um acordo;
d)as fronteiras do futuro Estado Palestino, que seriam
definidas pelo Plano de Partilha da Palestina, ou pela Resolução 242 das Nações
Unidas.
Não tendo ainda havido acordo entre os beligerantes,
muitos países deixaram de considerar a ANP apenas como entidade governamental
palestina, mas sim como estado, embora lhe falte soberania sobre o território
onde se encontra. Esses países abriram, então, suas "Embaixadas" em
Ramallah, na Cisjordânia, capital provisória dos palestinos, ao invés de
"escritórios de representação", o que, do ponto de vista político e
diplomático, seria mais adequado.
Ameaça à
existência de Israel. Não são
apenas as organizações terroristas islâmicas que ameaçam a existência de
Israel. O Irã, que avança rapidamente num programa nuclear, para fins pacíficos
e militares, visando à obtenção de artefatos nucleares, afirma que nunca houve o
holocausto de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial, e que Israel não
tem o direito de existir. Recorde-se que, sobre esse assunto, no início da
década de 1980, também o Iraque, nos tempos do ditador Saddam Hussein, havia
construído usinas nucleares para fins pacíficos e militares. Todas as
instalações iraquianas foram destruídas pela Força Aérea Israelense, em 1982.
O Estado
Islâmico ou DI (Dáula Islamíya).
Não se trata de um estado, pois não tem os elementos constitutivos. Na verdade,
é uma organização terrorista muito violenta e impiedosa, uma excrescência
radical que surgiu nos vácuos de poder em áreas do leste da Síria e oeste do
Iraque, países que se encontram em guerra civil.
O objetivo do grupo extremista é constituir um estado
com autoridade política e religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo,
principalmente os do Levante, que inclui, historicamente, além das áreas em que
se instalou, a Península Arábica, o Líbano, a Jordânia, Israel, Palestina,
Chipre e Turquia. Por essa razão, se autoproclamou "califado", isto
é, seu dirigente se considera "califa", enfeixando em suas mãos
poderes políticos e religiosos.
A organização terrorista obriga as pessoas que vivem
nas áreas que controla, a se converterem ao Islã radical, e a viverem sob a
Shária, o código islâmico de leis, extraído do Corão. Aqueles que se recusam
sobre torturas e mutilações, além de serem condenados à morte.
O grupo é muito mais brutal do que a Al Qaeda,
dispersa pelo Oriente Médio, ou pelo Hamas, na Faixa de Gaza. Se a própria Al
Qaeda se desligou do grupo por causa de sua brutalidade, e por ser intratável,
por que outras instituições preconizariam diálogo com o Estado Islâmico.
É uma excrescência, mas parece que o Estado Islâmico
veio para ficar. Não será fácil a sua extinção, em vista da provável
fragmentação da Síria e do Iraque. Todos os 54 países que integram a coligação
internacional contra o grupo extremista, defendem o seu aniquilamento. Nenhum
deles, no entanto, estaria disposto a enviar suas tropas para combatê-lo em
terra, e não somente por bombardeios, que se têm revelado inócuos.