terça-feira, 25 de agosto de 2015

QUEM GANHA ALMAS SÁBIO É???


EXEGESE DE PROVÉRBIOS 11.30 Um versículo bastante difundido no meio evangélico é Provérbios 11.30, e sua clássica aplicação como grande incentivo ao evangelismo: aquele que ganha almas é sábio.
 
O princípio de que “ovelha gera ovelha” sempre nesse versículo o seu texto-chave. Esta aplicação remonta à época da Reforma, e foi celebrizada na famosa tradução de King James e Geneva Bible, - “and he that winneth souls is wise”- junto com a nota marginal desta última que traz a interpretação que passou a prevalecer: “ou seja, os traz para o conhecimento de Deus”. Anos mais tarde, o metodismo continuaria com essa leitura, quando John Wesley assim comenta essa passagem: “o fruto – seus discursos e toda a sua conversação, que são como o fruto da árvore da vida. Ganha – aquele que ganha almas para Deus”. Portanto, podemos dizer que esta aplicação do versículo é uma marca do metodismo, a qual passou para o protestantismo norte-americano e dali para o protestantismo brasileiro. Esta tradução tradicional ainda é seguida pela Almeida (tanta a Corrigida como a Atualizada), a espanhola Reina Valera edição 1995, a alemã Schlachter de 1951. Porém, uma leve observação no texto massorético nos mostra que esta tradução não é adequada (seguimos aqui o Codex Aleppo, o Códice Lenigradense muda o ponto diacrítico da última letra shin): פְּרִ י צַדִיק עֵץ חַיִים וְּלקֵחַַ נְּפַׁשות חָכָם
 
O motivo da discórdia neste versículo é o verbo לקח. Este verbo tem o sentido básico de “pegar”, “tomar”, fazendo que a parte b do versículo seja lido assim literalmente: “aquele que pega (?) almas é sábio”. A Septuaginta e a Vulgata Latina não ajudam, antes deixam a interpretação do versículo ainda mais confusa: (“fora do fruto da retidão cresce árvore da vida, mas as almas dos transgressores são cortadas antes do tempo”). Vulgata: fructus iusti lignum vitae et qui suscipit animas sapiens est (“o fruto do justo é árvore da vida, e o que ampara as almas é sábio” – Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueiredo)
 
As várias traduções refletem as diferentes tentativas de elucidar a parte b deste versículo:Bíblia de Jerusalém: “o sábio conquista as pessoas” (seguida pela Bíblia Vozes e pela Bíblia do peregrino) Tradução Ecumênica: “o sábio cativa as pessoas” (seguida pela Jewish Publication Society, Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “quem aumenta o número de amigos é sábio” A Bíblia Viva: “quem é sábio leva outros para junto de Deus” Luther Bible 1912: “o que ganha corações é sábio” Revidierte Lutherbibel (1984): “o roubo leva embora a vida” Leeser Old Testament (1853): “o que atrai almas para si é sábio” New Revised Standard Version: “a violência arrebata vidas”. Revised Standard Version: “a impiedade arrebata vidas”. Targum: “o que recebe as almas dos sábios é agradável” Peshitta Siríaca: “as almas dos ímpios são dispersas” Como podemos resolver este impasse?
 
Uma leitura tão diferente como a da Septuaginta deve ter alguma base. Podemos perceber que a Peshitta Siríaca segue a leitura grega (embora em muitas ocasiões, apesar de ser uma tradução semítica, ela apresenta-se mais alinhada com a Septuaginta). Prestando atenção que a disposição preferida em Provérbios é o paralelismo antitético – antagonismo de idéias, seria de se esperar que o segundo hemistíquio trouxesse alguma contraposição ao justo. A Bíblia Hebraica Stuttgartensia propõe que tenha havido uma confusão na última palavra – um escriba colocou םָכָח quando a palavra provavelmente seria סָמָח, “violência” – o que explicaria a estranha leitura da septuaginta, tão diferente do texto massorético, e torna plausível e mais correta a interpretação da New Revised Standard Vdersion.


 

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